terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mais um poema ruim.

Minha dor é sempre formal

apresenta-se, explica suas razões,

justifica-se pedante, me deixando

de mão atadas, e sem sequer

a possibilidade de abrir os pulsos.


Então abro a cabeça, nego

essa racionalidade irrefutável

de quem sabe a que veio

e não abre mão, de acabar

com os sorrisos injustificáveis.


Ponho minha venda, meu analgésico

meu fones de ouvido de ausência

e assim não vejo nem escuto,

de bom grado, o escândalo da dor.


Só quem me protege fielmente

nessa guerra insuportavelmente real

são meus arcanjos esquecidos tortos:

o álcool, o silêncio e a escuridão.


Por isso só e sem nenhuma fé,

bebo o ouro que opõe a carne

toco a sinfonia que opõe o nada

e escuto o cinza que se espalha;


Ainda assim fraquejo sobre meus pés

enquanto tremo em frio ensolarado.

Não suporto a pesada leveza triste

de ser só mais uma existência falha.



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